1. Histórico: O Curso de Pós-Graduação (Especialização) em Endocrinologia, criado em 1959, é ministrado no Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia, instituição padrão no plano nacional, com intensa atividade na pesquisa e no ensino superior, em virtude de convênio celebrado entre a PUC/RJ e a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. Após quase 40 anos de existência, esse programa demonstra sua experiência através da formação de mais de 500 médicos Especialistas e Mestres, com a aprovação de 101 dissertações de Mestrado e manutenção de atividade científica contínua, com a publicação de inúmeros trabalhos em revistas especializadas e participação em Congressos Científicos de âmbito nacional e internacional, o que testemunha a eficiência com que desenvolve sua programação.

2. Objetivos do Curso de Especialização: Aprofundar e diferenciar os conhecimentos obtidos durante a graduação, familiarizando o aluno com a fisiopatologia, semiologia, métodos diagnósticos e terapêuticos da patologia endócrina.- Capacitar o aluno a adotar condutas diagnósticas e terapêuticas, atuais e éticas, bem como desenvolver a
capacidade de se atualizar, mantendo um espírito crítico e autocrítico.


06/12/2010

Endo Pills - 7

Informação cientifica de ação rápida

Ano 2 N°7

Curso de Especialização em Endocrinologia - PUC

Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione


Prof.: Luiz César Povoa (A45)

Ricardo Martins Rocha Meirelles (A35)

Editor: Rosa Rita Santos Martins (A31)

Editores Associados: Walmir Coutinho (A19)

Edna Pottes (A32)

Cláudia Pieper

Composição Gráfica: Wallace Margoniner



No EndoPills deste mês nossa trajetória de estudo vai desde a revisão de uma condição clínica como a Síndrome de Mauriac a trabalhos de pesquisa básica e clínica em osteoporose, incluindo um trabalho sobre osteoporose em homens na Arábia Saudita, passando pela posição de médicos americanos sobre os hormônios bioidênticos, discussão do real papel das isoflavonas no osso, pela diminuição do nível da testosterona nos homens na era atual, um novo tratamento para os módulos tóxicos e pré-tóxicos da tireóide e três trabalhos sobre pesquisas em obesidade.

Dra. Edna Pottes Pinto


RELAÇÃO DA OBESIDADE COM O CÂNCER VIA ESTROGÊNIO

As pesquisas têm consistentemente demonstrado que a obesidade aumenta o risco de câncer. Mulheres na pós-menopausa, assim como roedores após ooforectomia, freqüentemente se tornam obesas, sugerindo a importância dos estrogênios na manutenção da composição corporal e na homeostase lipídica. Um grupo de pesquisadores de várias instituições, liderado por Shoshana Yakar, Ph.D., da Mount Sinai School of Medicine, investigou a relação entre sexo, obesidade e câncer – especificamente como o status estrogênico nas mulheres obesas afeta o crescimento de tumores. O grupo injetou em ratos, modelo C57BL/6, linhagens celulares tumorais de pulmão e de colon por via subcutânea pesquisando o aumento da velocidade de crescimento das células tumorais em ratos obesos versus ratos controle. Os pesquisadores compararam então os parâmetros metabólicos e o crescimento tumoral em ratas fêmeas ooforectomizadas e obesas intactas. As fêmeas obesas ooforectomizadas desenvolveram resistência insulínica e intolerância a glicose em níveis similares aos machos obesos. A adiposidade corporal aumentou nas fêmeas ooforectomizadas independente da dieta administrada, e o crescimento tumoral se relacionou positivamente com a adiposidade corporal. Os pesquisadores afirmam que seus dados apontam para um crescimento tumoral mais rápido em ratos obesos e que nas ratas, a ooforectomia aumenta a susceptibilidade à obesidade, resistência insulínica e crescimento tumoral, sugerindo que os estrogênios endógenos, junto com a dieta, afetam a adiposidade, a sensibilidade insulínica e o crescimento tumoral nas mesmas. O mecanismo que medeia o crescimento tumoral associado à obesidade é incerto, e os autores planejam investigar possíveis participações do processo de sinalização insulina/IGF e ligado a adipocina. Os resultados foram publicados no artigo: Yakar, S. et al., Increased Tumor Growth in Mice with Diet-Induced Obesity: Impact of Ovarian Hormones. Endocrinology, Dec 2006; 147: 5826 - 5834.

Camila Mont-Serrat (C2)


DESVENDANDO OS MISTÉRIOS DA GORDURA: A IMPORTÂNCIA DA SUA LOCALIZAÇÃO E DOS GENES REGULADORES

Dentre os muitos mistérios sobre o tecido adiposo estão as dificuldades de se compreender como sua localização no corpo pode ser tanto benéfica ou maléfica para saúde, como sua interação com a insulina pode predispor a obesidade e finalmente como influencia na sobrevida. O padrão de distribuição de gordura e a relação cintura/quadril são programados de modo diferente nos vários grupos étnicos e também entre indivíduos de uma mesma população, sugerindo algum padrão de hereditariedade. Pesquisas têm sugerido que a gordura intra-abdominal ou visceral (GV) estocada centralmente, como no abdome, é mais prejudicial que a gordura subcutânea (SC) estocada perifericamente. Dr. Kahn citou nesta sua apresentação a pesquisa que investiga as diferenças estruturais e funcionais entre o tecido adiposo branco nos seus dois depósitos principais no corpo e que a GV intra-abdominal, que se acumula com a idade, ligada à resistência insulínica e à síndrome metabólica, intrinsecamente, apresenta maior taxa lipolítica e produz e secreta relativamente menores taxas de leptina. O reverso permanece verdadeiro para o tecido celular SC. As GV e SC diferem não somente em função, mas talvez também nos vários tipos de células com padrões específicos de desenvolvimento e resposta ao receptor de insulina. O adipócito branco desenvolve-se tanto em precursor comum de célula marrom quanto em célula branca. O precursor comum de célula branca posteriormente se diferencia em um dos dois tipos de célula gordurosa branca-gordura visceral ou gordura subcutânea. Ele descreveu a pesquisa de seu serviço onde analisaram a expressão gênica da gordura intra-abdominal de roedores e a gordura SC ao redor, focando mais a expressão de genes de desenvolvimento do que o metabolismo. A analise inicial revelou que existem 6.174 genes diferentes entre os dois tipos de gordura e a análise posterior da expressão por “PCR em Tempo Real” encontrou 198 padrões de genes de desenvolvimento (homeobox - Hox) e destes, 12 que diferiam nos depósitos de GV e SC. Estes incluíam genes cruciais do desenvolvimento como Tbox-15, Shox2, Sfrp2 e vários outros genes Hox. Em experimento posterior, o grupo mostrou que a expressão celular desses genes era diferenciada nos dois tipos de gordura, provando que ela era autônoma nos dois tecidos. Além disso, os autores observaram também que a expressão em fêmeas foi, em muitos casos, mais alta que em machos. Sabemos que é muito importante entendermos porque algumas pessoas se tornam mais centralmente e outras perifericamente obesas e porque obesidade central pode predispor a síndrome metabólica. Este conhecimento poderá um dia tornar possível reprogramar o desenvolvimento do adipócito e atacar o problema global e nacional da obesidade. O Dr. Kahn discutiu ainda se a razão da gordura visceral ser tão ruim era não somente pelo alto poder lipolítico, mas também pela liberação de ácidos graxos livres que drenam imediatamente para o fígado onde eles podem regular o metabolismo. Inversamente, a gordura subcutânea drena perifericamente e têm menor expressão de fatores com efeitos deletérios. Suas conclusões podem ser lidas no trabalho: Kahn, R. Getting to the Bottom of Fat´s Mysteries: the importance of genes and location. ENDOCRINENEWS (February, 2007): 17-18 ou acessado pelo site http://videocast.nih.gov./PastEvents.asp, clicar em Clinical Center Grand Rounds, na data January 10, 2007.

Ana Lúcia Marinho Vinagre (C2)


COMO OS MACRÓFAGOS REGULAM A OBESIDADE NOS HUMANOS

A obesidade é uma doença inflamatória crônica com hipertrofia de adipócitos e formação de novas células no tecido adiposo. As células não inflamatórias do tecido adiposo seriam as responsáveis pela origem da inflamação. Pesquisas em Paris e Frankfurt levantaram a hipótese da infiltração de macrófagos afetarem a expansão da gordura com ação parácrina na diferenciação do adipócito. Experimentos em ratos sugerem que macrófagos do tecido adiposo são originados dos monócitos circulantes no sangue. Neste estudo os pré-adipócitos foram condicionados em macrófagos isolados do sangue de pacientes com sobrepeso. Foi demonstrado baixo acúmulo de lipídios e redução da expressão de marcadores “adipogênicos” e “lipogênicos”. Por causa do estímulo inflamatório marcante houve uma mudança do fenótipo dos macrófagos ativados por lipopolissacarídeos. O condicionamento de macrófagos estimulou a sinalização TF-kbeta (a chave da transcrição reguladora da inflamação), aumentou a expressão do seu gene, realizou a pró-inflamação com citocinas e induziu a proliferação dos pré-adipócitos. Os autores observaram também que se mantiveram os aumentos da expressão do gen ciclina D1 e da fibronectina da matriz. Estes e outros dados observados pelos autores demonstraram que fatores secretados pelos macrófagos inibem a formação de adipócitos maduros e possivelmente limitam a expansão de tecido adiposo em humanos. Ainda precisa ser entendido se o efeito proliferativo dos macrófagos ativados é um fator chave dirigindo a resistência à perda de peso ou à freqüente manutenção do peso em sujeitos obesos. A metodologia, os resultados e a discussão deste trabalho devem ser dos conhecimentos de todos os médicos que se interessam por pesquisas em obesidade e podem ser buscados on line (com acesso livre ao trabalho) ou na referência: Lacasa, D. et al. Macrophage-Secreted Factors Impair Human Adipogenesis: Involvement of Proinflammatory State In Preadipocytes. Endocrinology (2007) Vol. 148, No. 2 868-877.

Carolina de Abreu Gonçalves Mergulhão (C2)


NÍVEIS DE IGF-1 NA MEIA-IDADE E A FUNÇÃO COGNITIVA TARDIA

O Fator de Crescimento Insulina-símile 1 (IGF-1) tem sido estudado por seu possível papel protetor nas doenças degenerativas. Pesquisadores liderados por Olívia I. Okereke M.D., S.M., na Brigham and Women’s Hospital em Boston, examinaram a relação dos níveis plasmáticos do IGF-1 na meia-idade com a cognição na vida tardia. Usando amostras de sangue obtidas em 1982-1984 (idade média de 57 anos) do Physicians’ Health Study II, o grupo mediu o IGF-1 livre em 376 homens e IGF-1 total e IGFBP-3 em 460. Começando em 2001, eles aplicaram a Entrevista Telefônica de Status Cognitivo (TICS) e testes de memória verbal e fluência. Usando o score do TICS e da memória verbal, e um score global da performance média, eles então estimaram as principais diferenças ajustadas para as multivariáveis na performance cognitiva através dos níveis do IGF-1 livre e da relação IGF-1/IGPBP-3. Os pesquisadores não observaram nenhuma diferença significativa entre o score de TICS e os níveis de IGF-1. Para a memória verbal, cada aumento de SD no IGF-1 livre esteve significativamente associado com uma diferença ajustada de 0,08U. Os resultados obtidos utilizando a razão IGF-1/IGFBP-3 não foram estatisticamente significativos. O trabalho completo pode ser acessado em: Olívia, I. et al. Midlife Plasma Insulin-Like Growth Factor I And Cognitive Function In Older Men. J of Clinical Endocrin & Metab (2006), vol. 91, (11) 4306-4312.

Camila Mont-Serrat (C2)


COMO Ror2 PROMOVE A DIFERENCIAÇÃO DE OSTEOBLASTOS

Os osteoblastos derivam de células tronco mesenquimais. A transição da célula tronco até o osteoblasto maduro é controlada pelos fatores de transcrição Runx2 e osterix, assim como por diversos hormônios, fatores de crescimento e citocinas. O Ror2 é um receptor tipo tirosina quinase conhecido por seu papel na morfogênese, particularmente do esqueleto derivado de cartilagem. Sua expressão aumenta durante a diferenciação das células pluripotenciais em osteoblastos e se reduz quando estes progridem para osteócitos, mostrando um papel na osteoblastogênese. Para testar esta possibilidade cientistas do Wyeth Research in Collegeville estudaram os efeitos da expressão e regulação do Ror2 na linhagem osteoblástica. Eles mostraram que a expressão deste fator em células mesenquimais através de infecção por adenovírus levou a formação de matriz extracelular mineralizada. O Ror2 estimulou a osteoblastogênese através da inibição de fatores adipogênicos e indução do fator de transcrição osterix. O mesmo efeito foi demonstrado em células MC3T3-E1 (osteoblasto-like). Neste artigo os autores concluem que o Ror2 inicia o recrutamento de células tronco mesenquimais para diferenciação na linhagem osteoblástica e promove a diferenciação nas fases precoces e tardias da osteoblastogênese. O trabalho completo e a discussão dos resultados pode ser lido no artigo. Lyu Y, Bhat RA, Seestaller-Wehr LM, et al. The orphn receptor tyrosine kinase Ror2 promotes osteoblast differentiation and enhances ex vivo bone formation. Mol Endocrinol (2007): 21:376-387.

Leandro Kasuki Jomori de Pinho (R2)


OSTEOPOROSE NOS HOMENS DA ARÁBIA SAUDITA: UM ESTUDO-PILOTO

De acordo com a OMS, 55% das pessoas acima de 50 anos nos EUA apresentam osteoporose. Estudos indicam uma incidência de osteoporose na pós-menopausa de 30 a 40%, e de osteopenia de mais de 60%. Na Arábia Saudita, a prevalência de mulheres com osteoporose na pós-menopausa foi subestimada por muito tempo, mas com relatos recentes de ser maior que a do Ocidente. A situação parece ser similar quando se estuda a prevalência da osteoporose na população masculina da Arábia Saudita, já que pouca atenção tem sido dada ao assunto. Neste trabalho os autores avaliaram a prevalência da osteoporose nos homens com idade acima de 50 anos da Arábia Saudita. Para isso estudaram 115 homens (61,8 ± 0,75 anos) , que não apresentavam osteoporose secundária e tinham IMC de 24,7± 0,35. Todos tiveram a DMO da coluna lombar e colo de fêmur medidos pelo DXA. Um escore “T” ≤ -2,5 DP foi o critério para osteoporose, e entre -1 e -2,5 DP para osteopenia. A prevalência de osteoporose foi de 37,4% e de osteopenia de 33,9%. A comparação destes resultados com outros dados da literatura e a discussão dos resultados podem ser lidos no trabalho: Sadat-Ali, M & AlElq, A. Osteoporosis among male Saudi Arabs: a pilot study. Ann Saudi Med (2006):26(6): 450-454

Vanessa de Aragão Sádio (C2)


AMERICANOS MOSTRAM MISTÉRIOSA QUEDA DOS NÍVEIS DE TESTOSTERONA

A queda nos níveis de testosterona pode causar numerosas condições adversas para saúde como obesidade abdominal, diabetes, dislipidemia, perda óssea e muscular, disfunção erétil e depressão do humor. Esse declínio da testosterona é considerado normal em homens com idade avançada, entretanto um estudo recente na população dos Estados Unidos revelou uma queda inexplicável nos níveis de testosterona, idade independente, em homens a partir dos 17 anos. A hipótese deste estudo transversal discute a possibilidade do estado de saúde física e funções endócrinas do homem serem fatores causais. O estudo foi realizado com um coorte prospectivo avaliando a saúde e funções endócrinas com seleção randomizada dos homens de idade entre 49 a 79 anos. As pesquisas demonstraram evidências do decréscimo secular nos níveis de testosterona, com interferência na contagem de espermatozóides e fertilidade. Este artigo pode se lido em: Travison T.C. et al. A population-level decline in serum testosterone levels in American men. J. Clin. Endocrinol. Metab. (2007): 92(1): 196 - 202.

Carolina de Abreu Gonçalves Mergulhão (C2)


HORMÔNIOS BIOIDÊNTICOS – A POSIÇÃO DA SOCIEDADE AMERICANA DE ENDOCRINOLOGIA

Os hormônios bio-idênticos são definidos como compostos que possuem exatamente a mesma estrutura química e molecular dos hormônios produzidos naturalmente no corpo humano. Embora qualquer hormônio possa ser produzido para ser bio-idêntico o termo é geralmente usado para descrever formulações contendo estrogênio, progesterona e androgênios. A reposição hormonal é comum e um tratamento efetivo para sintomas associados à menopausa pode trazer efeitos colaterais potencialmente sérios. Pessoas fora da comunidade médica sem nenhum conhecimento científico têm afirmado que os chamados hormônios bio-idênticos, particularmente o estrogênio e a progesterona são uma terapia segura e mais efetiva quando comparada às terapias tradicionais, e indicando-as sem nenhuma informação ou segurança dos mesmos para os pacientes, pois tais hormônios não estão sujeitos a averiguações pelo FDA (Federação de Drogas e Alimentos dos EUA) no que diz respeito à dose ou pureza. Os hormônios usados na terapia de reposição hormonal são comercialmente disponíveis e suas estruturas químicas e moleculares são muito semelhantes, mas não exatamente uma réplica daqueles hormônios produzidos pelo corpo humano. A dosagem de cada hormônio usado tem sido constante dentre as mulheres que receberam tratamento hormonal. Nenhuma evidência médico-científica existe para dar suporte a idéia de que os efeitos adversos e/ou benefício encontrados resultaram da estrutura molecular dos hormônios sintetizados, nem houve nenhuma evidência científica para mostrar que uma diferença ou dose personalizada de hormônio teria um resultado diferente na doença, caso a dosagem e pureza fossem iguais. Portanto, seria esperado que todo o estrogênio contido na TRH bioidêntica ou tradicional levasse essencialmente aos mesmos riscos e benefícios. Considerando-se a fonte ou estrutura dos hormônios administrados terapeuticamente todos os regimes de TRH mesmo aqueles em tratamento “personalizados” devem ser cuidadosamente controlados. A posição da Sociedade Americana de Ginecologia e Obstetrícia, da Academia Americana de Médicos da Família, da Sociedade Americana de Endocrinologia e da Associação Médica Americana podem ser lidas na apresentação da dra. Loretta Doan em “EndocrineNews” (January 2007: Bioidentical Hormones. The Endocrine Society´s Position).

Maria da Saúde de Oliveira (C2)


ISOFLAVONAS DE SOJA NA DIETA NÃO AJUDAM OS OSSOS

Apesar da reposição estrogênica reduzir a reabsorção óssea, a preocupação com seus efeitos colaterais negativos levou a uma procura por tratamentos alternativos, dentre eles a isoflavona de soja. Para identificar a dose necessária para aumentar a massa óssea pesquisadores da Purdue University conduziram um estudo utilizando espectrometria de massa e marcadores de reabsorção óssea no intuito de detectar baixas relações cálcio41/cálcio urinário. O novo método permite medir o impacto do tratamento anti-reabsortivo no intervalo de dias a semanas, ao invés de seis meses a anos. Em estudo duplo-cego, randomizado, os pesquisadores administraram 41cálcio intravenoso em 13 mulheres pós-menopausa. Após um período de 200 dias, as participantes do estudo receberam por 50 dias, 43 gramas de proteína de soja que continham 0 mg, 97,5 mg ou 135,5 mg de isoflavona. A cada 10 dias amostras de urina de 24 horas foram coletadas para medida da relação 41cálcio/cálcio. Os pesquisadores observaram que nenhuma dose de isoflavona influenciou a reabsorção óssea ou a absorção de cálcio. Os marcadores séricos e urinários de formação e reabsorção ósseos permaneceram inalterados, apesar do reconhecimento por parte dos pesquisadores de que o estudo não tem poder estatístico para mostrar diferenças nestes marcadores. Além disso, o estudo incluiu mulheres com mais de quatro anos pós-menopausa, já passada a fase de perda óssea rápida. A conclusão dos pesquisadores é de que seu estudo tem resultados semelhantes ao de outros estudos em humanos e animais, que mostram que a isoflavona de soja não afeta a perda óssea, apesar de outros estudos terem mostrado o contrário. A discussão sobre essas divergências pode ser lida no trabalho Cheong JMK et al. Soy isoflavones do not affect bone resorption in postmenopausal women: A dose response study using a novel approach with 41Ca. J Clin Endocrinol Metab (2007). N. 92:2577-2582

Leandro Kasuki Jomori de Pinho (R2)


NOVOS MÉTODOS TERAPÊUTICOS


ABLAÇÃO PERCUTÂNEA POR LASER NO TRATAMENTO DE BÓCIO NODULAR TÓXICO E PRÉ-TÓXICO

Nódulos tireoidianos hiperfuncionantes constituem cerca de 4% dos nódulos tireoidianos. Podem ser solitários ou, mais comumente, fazer parte de um bócio multinodular (BMN). Sintomas geralmente se manifestam quando os nódulos são suficientemente grandes para serem capazes de produzir quantidade de hormônio tireoidiano que diminui o nível de TSH. A importância dos sintomas depende da idade do paciente e da presença de doenças subjacentes, principalmente cardiovasculares. A ablação percutânea por laser (APL) tem sido usada de modo experimental e clinico em ablação de tecido tumoral. Entretanto, sua utilização nos nódulos tireoidianos é recente. Alguns estudos têm demonstrado que a APL pode ser capaz de diminuir o tamanho dos nódulos tireoidianos nos pacientes que apresentam contra-indicação cirúrgica ou que recusam este procedimento. Os autores deste trabalho citam algumas possíveis vantagens da APL em comparação com os tratamentos mais clássicos como: na terapia com o radioiodo, o tratamento com drogas antitireoidianas tem que ser descontinuado por certo período; na intervenção cirúrgica há o uso de anestesia geral e o custo do procedimento; a injeção percutânea de etanol nos nódulos sólidos não destrói o tecido tireoidiano de maneira regular e homogênea e pode levar a problemas relacionados à difusão do etanol nos tecidos circundantes. Os autores trataram 18 pacientes (10 mulheres e 8 homens, de 31 a 80 anos) que apresentavam um único nódulo tireoidiano hiperfuncionante ou um BMN com áreas claramente hiperfuncionantes na cintigrafia com tecnécio 99m; o tamanho máximo dos nódulos variou de 24,2 a 48,6 mm (volume de 4,7 a 39,2 ml). O tratamento foi descontinuado quando o ultra-som mostrou destruição quase completa do nódulo, que ocorreu após uma a cinco semanas (mediana, três semanas). O grupo controle constou de 64 pacientes (36 mulheres e 28 homens, 37 a 71 anos) com BMN ou uninodular tóxico ou pré-tóxico (TSH menor que 0,20 µUI/ml em pelo menos duas ocasiões), admitidos consecutivamente durante o mesmo ano. Estes pacientes foram submetidos a acompanhamento durante seis meses para detectar a possibilidade de normalização espontânea do TSH, e também nestes pacientes foi iniciado metimazol quando necessário. O número total de sessões de APL variou de um a cinco, o número usado foi baseado no tamanho da área de lesão induzida pelo laser percebida pelo controle ultra-sonográfico, realizado uma semana após cada sessão. Vinte e quatro horas após cada sessão de APL houve aumento leve e transitório dos níveis de T4 e T3 livres – de 5,2% a 18,1% (p< 0,001) nos pacientes não tratados com metimazol e de 4% a 8,3% nos pacientes tratados com metimazol; entretanto nunca atingiram valores de hipertireoidismo. Além disso, a tireoglobulina apresentou aumento importante após 24 horas – 115% a 390% (p< 0,001). O TSH aumentou em todos os casos e atingiu valores normais em todos os pacientes com nódulo único e em cinco pacientes (50%) com BMN em três meses. Em dois pacientes, o TSH permaneceu temporariamente normal ou baixo apesar de valores baixos de T4 livre. Não houve aumento significativo dos anticorpos anti-TPO ou anti-tireoglobulina. O ultra-som realizado na primeira semana pós-tratamento demonstrou na área tratada, como relatado anteriormente, três regiões diferentes: fina região central anecóica, correspondendo à cavitação, uma camada hiperecóica circundante e uma camada externa hipoecóica devido à necrose. O volume nodular não apresentou alteração. No exame realizado no terceiro mês após a APL, todos estes aspectos estavam menos definidos e o volume nodular diminuiu 15% a 43% (p< 0,001). Em um ano, a diminuição do volume foi de 24% a 72% (p< 0,001) e os nódulos se mostraram menos nítidos, com áreas não homogêneas. No grupo controle, nenhum paciente apresentou normalização do TSH ou diminuição do volume nodular. Dados específicos da técnica aplicada, efeitos colaterais, intercorrências clínicas e a discussão dos resultados estão descritos no trabalho: Bárbaro, D. et al. Endocrine Practice (2007). Vol 13 (1): 30-36.

Roberta Portugal Henriques (R2)


REVISÃO CLÍNICA

SÍNDROME DE MAURIAC EM UM MENINO DE 3 ANOS

A Síndrome de Mauriac apresenta como pontos cardinais hepatomegalia, déficit de crescimento e fácies cushingóide associado a diabetes mellitus (DM) tipo 1 mal controlado durante a infância e adolescência. Com o advento dos análogos de insulina e insulinização intensiva a incidência deste quadro tem diminuído. Neste trabalho foi descrito o paciente mais jovem já publicado com Síndrome de Mauriac, 3 anos de idade, com DM tipo 1, abdome protuberante, hepatomegalia e elevação de enzimas hepáticas. Todos esses dados se normalizaram com a melhora no controle glicêmico. Seu diagnóstico de diabetes tipo 1 havia sido realizado com 14 meses de idade, com hemoglobina glicosilada de 11,3%; a insulinização não foi adequada e o controle irregular o levou a apresentar três episódios de cetoacidose diabética em 2 anos, com uma variação de HgA1C de 13 a 17%, com elevação moderada de transaminases hepáticas sem hepatomegalia. Evidências de descaso e negligência fizeram necessário o envolvimento do Serviço de Proteção à Criança. Evoluiu com hepatomegalia, desaceleração do crescimento linear, no exame físico. Durante o diagnóstico de síndrome de Mauriac apresentava fácies de lua cheia, rotunda e com abdome distendido, glicosúria sem proteinúria; colesterol 225 mg/dl, triglicerídeos 208 mg/dl, Hg A1C 14,2%, TGO 51 U/L, TGP 146U/L, albumina 4 g/dl, TAP 11, 6 segundos, PTT 18,4 segundos, IGF-1 < 10 ng/mL e IGFBP3 0,8mg/L (0,9-4,1), hemograma, função renal, cortisol livre urinário e hormônios tireoidianos normais, testes para hepatite auto-imune, doença celíaca, doenças do trato biliar e toxicidade medicamentosa foram negativos, US abdominal mostrou grande hepatomegalia, atraso de idade óssea; após duas semanas de controle glicêmico estrito hospitalar houve redução do tamanho do fígado e após cinco meses sua Hg A1C caiu para 9,9%, sua necessidade de insulina diária caiu de 1,0 para 0,75 U/Kg, houve aumento da velocidade de crescimento, nova dosagem de IGF-1 foi de 30 ng/ml e a IGFBP-3 foi 1,3 mg/L; normalização do tamanho do fígado e das provas funcionais. Os achados do paciente batem com a descrição clássica de Síndrome de Mauriac, incluindo a desaceleração do crescimento, traços cushingóides, abdome protuberante e hepatomegalia associada ao controle glicêmico ruim de longa data. Discussão dos mecanismos envolvidos no déficit de crescimento, nos sinais clínicos e mecanismos fisiopatológicos envolvidos podem ser lidos no trabalho: Shefali Mahesh, MD et al. Mauriac Syndrome in a 3 Year Old boy. Endocrine Practice (2007), 13 (1): 63-66

Beatriz Ohana Marques Coelho de Carvalho (C2)

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